Crítica de ‘Anaconda’: versão de capa de alto conceito muda de gênero, revisitando o ‘clássico’ de Killer-Snake com poucas risadas e zero sustos
Com “Anaconda”, o sistema de estúdios de Hollywood chega mais perto do que nunca de devorar a própria cauda. Em 1997, a Sony Pictures fez “Anaconda”, um filme de criatura notoriamente insípido, estrelado por Jennifer Lopez, Ice Cube e uma feroz cobra animatrônica. A imitação barata de “Tubarão” foi concebida como um filme de terror, mas recebida por muitos como uma comédia – o tipo em que os espectadores acabam rindo do diálogo involuntariamente brega e das decisões notoriamente erradas tomadas por personagens que precisam seriamente de um barco maior. Então, quando chegou a hora de reiniciar a franquia, o estúdio teve uma escolha: jogar direto ou apostar no humor? Entra Tommy Gormican, a mente por trás de “O Incrível Peso do Talento Enorme” de 2022, uma metacomédia bastante inteligente na qual um bom esportista Nicolas Cage interpretava “ele mesmo”, parodiando ativamente o tipo de filmes de ação paródicos que o mantiveram ocupado nos últimos anos. Lá, o conceito prometia mais do que a execução de Gormican conseguiu entregar. Infelizmente, essa falha parece ainda mais aguda com “Anaconda” – um riff extenso (sem nenhuma piada real) sobre como é uma prática sem alma e esgotada para Hollywood continuar voltando à propriedade intelectual de nível inferior, quando inúmeras ideias originais ainda estão para ser feitas. “Anaconda” de Gormican pode ser um exercício de uma piada (faça duas piadas, se você contar a amostra repetida da frase “Minha anaconda não quer nenhuma” do clássico do rap dos anos 90 “Baby Got Back”), mas é difícil não admirar a coragem de qualquer executivo de estúdio que deu sinal verde para isso. O roteiro, que Gormican escreveu com Kevin Etten, passa bastante tempo analisando se é uma reinicialização, uma reimaginação ou uma “sequência espiritual” do filme de 1997, quando na verdade, é um tratamento corajoso do material com todos os itens acima. Em vez de simplesmente fazer uma reinicialização pró-forma, Gormican elaborou uma elaborada sátira da indústria, na qual uma gangue inexperiente de cineastas amadores viaja até o Brasil para relançar a franquia da cobra assassina, apenas para ser aterrorizada por uma cobra gigante em CG no processo. A nova equipe de “Anaconda” consiste em Griff (Paul Rudd), um ator esforçado que se mudou para Hollywood apenas para definhar fazendo pequenos papéis em séries de TV ruins, e Doug (Jack Black, no modo “Jumanji”), que está preso em Buffalo fazendo vídeos de casamento complicados para casais que não se importam menos com suas “idéias”. Griff ainda tem sentimentos pela namorada de infância Claire (Thandiwe Newton), que esgota seu PTO e suas economias pessoais para participar. No local, as faíscas supostamente reacendem, mas de forma alguma o público pode detectar. Também acompanhando o passeio está Kenny (Steve Zahn), um idiota cativante com problemas de vício, que é consistente em apenas uma coisa: pode-se contar com Kenny para estragar todas as tarefas que eles lhe derem, começando com a contratação do exótico treinador de cobras Santiago (Selton Mello). No papel, essa abordagem de “Anaconda” sugere uma reunião promissora, quatro décadas depois, do tipo de personagens vistos em “Super 8” ou “Son of Rambow”, que celebrou o fascínio que os filmes de grande sucesso exercem sobre os jovens geeks do cinema com acesso a equipamentos básicos de produção cinematográfica. Gormican e Etten encontraram um ângulo pós-moderno tão intuitivo que outro filme de Jack Black imediatamente vem à mente: “Be Kind Rewind”, de Michel Gondry, no qual balconistas de locadoras de vídeo faziam remakes excêntricos de favoritos da infância com recursos limitados. É o tipo de conceito “alto” que um bando de drogados pode lançar em um podcast (da mesma forma que Kevin Smith cuspiu a ideia da pegadinha de terror corporal “Tusk”). Com tal premissa, o público pode esperar razoavelmente duas coisas. Primeiro, deveria ser divertido assistir esses idiotas lutando para fazer um filme com aparência profissional, especialmente se eles tiverem que enfrentar uma anaconda imprevista. E segundo, queremos ver o resultado final, que deve ser tão ruim que é ainda mais engraçado que o “Anaconda” original. Mas Gormican parece ter uma agenda um pouco diferente, menos preocupada com risadas: sua “Anaconda” ainda precisa funcionar (pelo menos em parte) como um filme de terror, o que significa que o estúdio espera algumas cenas de suspense genuínas, e pelo menos alguns personagens devem ser comidos. A solução de Gormican é inventar uma subtrama sobre a mineração ilegal de ouro na Amazônia, que fornece uma personagem astuta, estilo Lara Croft, chamada Ana (Daniela Melchior) para atuar como guia turística, junto com muitos capangas em seu encalço para alimentar aquela ‘conda – tudo isso parece tão estranho e pouco convincente quanto as cenas da selva em 2024, o uivador “Madame Web”. As piadas praticamente se escrevem sozinhas, por isso é surpreendente que não existam mais delas. Além de uma piada solitária sobre o sotaque bizarro de Jon Voight no original, os personagens têm uma reverência pelo anterior “Anaconda” que prejudica a mordida do filme. Só podemos imaginar como seria hilário ouvir Jack Black fazer um comentário sarcástico no estilo “Mystery Science Theatre 3000” sobre o filme de 1997, mas nem os vemos assistindo aqui. O que é a “Anaconda” deles, além de dar a esses velhos amigos – que se distanciaram nas décadas desde que fizeram um filme DIY sobre o Sasquatch na floresta perto de sua casa – uma chance de se atualizarem? A maior parte da comédia é do tipo pastelão, incluindo cenários com uma tarântula viva, um esquilo morto e um porco selvagem gritando. Enquanto isso, a ação é tão desajeitada que sugere que os executivos do estúdio deveriam ter contratado uma segunda unidade para lidar com as cenas de ataque de cobra. A classificação PG-13 pode ter espremido os momentos mais chocantes, incluindo um susto desajeitado que lembra a saída de Samuel L. Jackson no meio da frase em “Deep Blue Sea”. Mas Gormican simplesmente não parece muito confortável com o terror – ou com a morte de seus personagens, aliás. O filme poderia realmente ter usado um pouco daquela energia anárquica e devastadora do “Tropic Thunder”. O único risco assumido aqui foi pedir à Sony – e a todos os membros sobreviventes do elenco original – que zombassem de si mesmos, o que só vai até certo ponto quando o filme não tem presas.
Publicado: 2025-12-23 17:00:00
fonte: variety.com








